(Lc 12:35-48) Esperando, Vigiando e Trabalhando como Alfred Pennyworth
Temos trabalhado duro? Temos vigiado com constância? Temos esperado ansiosamente por Ele?
Preguei este sermão, originalmente, na Connect Methodist Church, em Stockport, Inglaterra, quando servia lá. Publiquei no meu antigo blog “God, Science and Poetry” em 22/11/2019. Traduzi com o ChatGPT, mas o texto é meu. O original está neste link.
Em nossa igreja, nas últimas semanas, um tema tem surgido. Da última vez, preguei sobre a necessidade de pensarmos em algo além das nossas necessidades diárias, especialmente sobre o Reino de Deus. Nossa vida se trata disso. Tudo o que fazemos aqui vai ecoar no Reino que virá.
Então, Ricardo, na semana seguinte, pregou sobre a necessidade de falarmos sobre Jesus. Afinal, conversamos com os amigos e colegas sobre futebol, política, nossos diversos interesses, etc, mas raramente somos levados pela conversa sobre a pessoa de Jesus Cristo, nosso Senhor e amigo.
Na semana passada, Beto nos lembrou da parábola dos talentos, onde o senhor entrega a três servos quantias diferentes de dinheiro e espera que eles invistam nisso, por meio de trabalho duro e dedicação. Assim, devemos fazer o mesmo pelo Reino de Deus - seja qual for o dom, o "talento" que Deus nos deu; não devemos escondê-lo, mas investir nosso tempo de forma positiva no Reino de Deus.
Agora chegou a minha vez novamente de entregar um sermão e, ao pensar sobre qual seria nosso tema de hoje, continuei sendo levado ao mesmo capítulo que usei da última vez - Lucas 12, mas na seção subsequente. Talvez seja por causa da situação de nossa comunidade, da situação da Inglaterra ou da nossa cultura moderna, que se recusa a trabalhar duro por algo além de nós mesmos. Não sei porque, mas, como diz o Chicó do Auto da Compadecida, só sei que é assim.
Vamos ver o que a Bíblia tem para nós em nosso tempo de reflexão hoje.
"Estejam prontos para servir, e conservem acesas as suas candeias, como aqueles que esperam seu senhor voltar de um banquete de casamento; para que, quando ele chegar e bater, possam abrir-lhe a porta imediatamente. Felizes os servos cujo senhor os encontrar vigiando, quando voltar. Eu lhes afirmo que ele se vestirá para servir, fará que se reclinem à mesa, e virá servi-los. Mesmo que ele chegue de noite ou de madrugada, felizes os servos que o senhor encontrar preparados. Entendam, porém, isto: se o dono da casa soubesse a que hora viria o ladrão, não permitiria que a sua casa fosse arrombada. Estejam também vocês preparados, porque o Filho do homem virá numa hora em que não o esperam". Pedro perguntou: "Senhor, estás contando esta parábola para nós ou para todos?"
O Senhor respondeu: "Quem é, pois, o administrador fiel e sensato, a quem seu senhor encarrega dos seus servos, para lhes dar sua porção de alimento no tempo devido? Feliz o servo a quem o seu senhor encontrar fazendo assim quando voltar. Garanto-lhes que ele o encarregará de todos os seus bens. Mas suponham que esse servo diga a si mesmo: ‘Meu senhor se demora a voltar’, e então comece a bater nos servos e nas servas, a comer, a beber e a embriagar-se. O senhor daquele servo virá num dia em que ele não o espera e numa hora que não sabe, e o punirá severamente e lhe dará um lugar com os infiéis. "Aquele servo que conhece a vontade de seu senhor e não prepara o que ele deseja, nem o realiza, receberá muitos açoites. Mas aquele que não a conhece e pratica coisas merecedoras de castigo, receberá poucos açoites. A quem muito foi dado, muito será exigido; e a quem muito foi confiado, muito mais será pedido".
(Lucas 12:35-48, NVI)
E o Senhor respondeu contando outra história para que ele entendesse. O ponto é simples, como Charles Spurgeon nos ajuda a entender em seu sermão "Vigiando pela Vinda de Cristo" (1), e como Deus tem nos falado ao longo dos últimos dois mil anos. Para mim, entretanto, é mais simples pensar nisso se fizermos três reflexões básicas sobre nossas vidas.
Temos trabalhado duro?
Temos vigiado com constância?
Temos esperado ansiosamente por Ele?
Pense nessas perguntas por um momento.
Temos trabalhado duro?
Vamos pensar sobre o que temos feito à luz de algumas das lições que Jesus nos ensinou. Ele nos disse para falarmos mais sobre Ele, para incluí-lo em nossas conversas. Temos feito isso? Eu certamente não tenho feito o suficiente. Temos pensado mais sobre o Reino de Deus em vez de nossas próprias necessidades? Temos investido no Reino de Deus com nosso trabalho, vocação e talentos?
A imagem pintada é a de um servo pronto para a ação. Lembremos que, no Oriente Médio da época, as pessoas vestiam longas túnicas que impediam o movimento rápido. Então, tinham que prendê-las no cinto para se mover rapidamente. Ficavam acordados até tarde, esperando seu senhor voltar do trablahdo ou de um banquete de casamento - uma festa que podia durar até altas horas da noite, e o servo (ou mordomo) precisava estar pronto para servir bem.
Se for melhor, imagine o mordomo do Batman, Alfred. Nos quadrinhos, frequentemente não importa quando Batman vai voltar à Batcaverna. Alfred está sempre lá para cuidar das feridas e serví-lo como for necessário. Não apenas isso, mas, conforme os anos passavam na publicação, Alfred evoluiu como personagem - de um mordomo simplório a um herói de guerra aposentado, agente do serviço secreto e, finalmente, aliado de Batman em pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias. (2)
Haja talentos! Seja o Bruce Wayne precisar, Alfred está disponível. E, semelhantemente, estamos disponíveis para quaisquer coisas que nosso herói, Jesus, precise?
Hoje, por isso mesmo, não estamos falando sobre o dia em que vamos morrer e terminar nossos trabalhos. Estamos falando sobre o dia em que nosso Senhor voltará, enquanto realizamos nossos trabalhos. Essa é uma parte fundamental da nossa fé, algo que temos confessado há séculos:
"Creio em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor. Foi concebido pelo poder do Espírito Santo e nasceu da virgem Maria. Padeceu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado. Desceu à mansão dos mortos. Ressuscitou ao terceiro dia. Subiu aos céus e está sentado à direita de Deus Pai Todo-Poderoso. Donde há de vir para julgar os vivos e os mortos."
Como Alfred e os servos da parábola, precisamos "estar preparados, porque o Filho do Homem virá numa hora em que não o esperam" (Lucas 12:40). Por isso, pergunto, você permanece vigilante?
Você tem vigiado?
Pedro ficou um pouco intrigado com a história; ou, talvez, estivesse buscando uma saída, uma indicação de não precisar trabalhar tão duro. De qualquer modo, ele perguntou: “Senhor, estás contando essa parábola para nós ou para todos?”
E a resposta de Jesus é, como frequentemente é, multifacetada. Por um lado, sim, Pedro, é para os discípulos. Mas também para todos os outros ouvintes.
Na cena, Jesus apresenta um servo sendo promovido a administrador da casa, responsável por cuidar de todos os outros servos enquanto o senhor está ausente. Isso acontecia frequentemente nos tempos antigos, e esses administradores eram escravos de alto nível. Fequentemente, porém o senhor da casa poderia demorar muito para voltar e o escravo não tinha como saber quando, por isso, precisava continuar administrando.
Assim, na história, temos três personagens: o senhor, que vai embora; os servos, que precisam continuar com seus deveres; e o recém-nomeado administrador da casa, que chamaremos de Alfred.
Agora, imagine Alfred, o mordomo, comprometendo as operações do Batman. Imagine que ele desliga o bat-computador, impedindo o Batman de rastrear criminosos. Deixa o rádio do Batmóvel ligado e descarrega a bateria. Não conserta os furos no uniforme; viaja sem aviso nenhum. O que aconteceria com Gotham City sem ninguém para cuidar do Batman? Pior: imagine que ele se volte contra o Batman, se alia ao Coringa. Ele relaxa, bate no Robin, bagunça o uniforme da Batgirl, extravia os bastões do Asa Noturna, se embriaga e abandona completamente seus deveres. O que aconteceria com Gotham City?
Mas ele esquece que o Bat-sinal estava ligado o tempo todo. O Batman poderia voltar à Batcaverna a qualquer momento. Um dia, finalmente, ele chega, olhando, sob o capuz, diretamente nos olhos de Alfred.
Consegue sentir a tensão? “Por que, Alfred, você foi tão negligente? Achou que eu não o trataria como a um criminoso qualquer?”
Você acha que Jesus seria diferente? Ele espera que você esteja atento. O que isso significa? Segundo o Olive Tree ESV Strong’s Dictionary, o termo, que aparece em Mateus 25:13—“Vigiai, pois, porque não sabeis o dia nem a hora"—significa:
"Tomar cuidado para que, por negligência ou preguiça, alguma calamidade destrutiva não o alcance de repente.” (3)
Como faremos isso?
Vigiem e orem para que não caiam em tentação. O espírito está pronto, mas a carne é fraca. " (Marcos 14:38 NVI)
Sim, a tentação de “relaxar um pouquinho” faz total sentido. A ideia de “só desta vez” é atraente. Mas continua sendo errada. Então, continue observando os sinais dos tempos. Continue orando. Continue evitando a tentação. Continue fortalecendo seu espírito para vencer os desejos da carne.
Por exemplo, eu conheço a história de um jovem que tentou descobrir uma maneira de alcançar tudo isso com uma ação simples. Ele tinha um sério problema com pornografia, era viciado. Não passava um dia sem que ele acessasse algum site obscuro para ver pornografia.
Mas um dia, cansado de apenas orar e não tomar nenhuma atitude, decidiu pegar um daqueles santinhos do Sagrado Coração de Jesus, que as pessoas costumam guardar na carteira para dar sorte, e o colou na tela do computador. Assim, toda vez que tentava acessar um site pornográfico, o santinho Jesus estava lá, olhando diretamente para ele. E ele não acessava mais. Além disso, continuou orando, pedindo força. Eventualmente, superou seu problema, com a graça do Espírito Santo — e com uma imagem brega de Jesus colada no computador.
Mas seja qual for a sua tentação, Jesus pode ajudá-lo a superá-la. Só não relaxe, de forma alguma. Continue vigiando, trabalhando e esperando. Ache um jeito de vencer suas tentações, porque não sabemos quando o nosso Senhor vai voltar.
Você tem esperado?
Entendam, porém, isto: se o dono da casa soubesse a que hora viria o ladrão, não permitiria que a sua casa fosse arrombada. (v.39)
A Segunda Vinda de Jesus tem sido uma pedra de tropeço em nosso tempo. Há uma infinidade de interpretações dos textos bíblicos relevantes. Tem gente defendendo a ideia do arrebatamento, a ideia de um Milênio, o número da besta sendo um microchip, a ideia de uma grande tribulação em que o diabo reinará na pessoa do anticristo, e tudo mais.
Muitas pessoas, incluindo eu, não acreditam em nada disso. Não sou defensor do arrebatamento secreto, do Milênio literal ou de microchips espirituais. Certamente acredito, porém, que o espírito do anticristo está atuando neste momento, assim como sempre atuou, segundo João:
Filhinhos, esta é a última hora; e, assim como vocês ouviram que o anticristo está vindo, já agora muitos anticristos têm surgido. Por isso sabemos que esta é a última hora. (…) Quem é o mentiroso, senão aquele que nega que Jesus é o Cristo? Este é o anticristo: aquele que nega o Pai e o Filho.
(1 João 2:18, 22, NVI)
Talvez esse espírito venha a crescer em um novo governante mundial, mil vezes pior que Hitler, Mussolini ou qualquer outro ditador, e a Igreja sofrerá por causa dele. Talvez já esteja por aí, na onda de conservadorismo que quebra nas praias democráticas do mundo. Mas não estamos esperando por ele.
Algumas pessoas passam seus dias em uma busca infrutífera para decifrar códigos fictícios da Bíblia ou tentando demonstrar que este ou aquele evento é o cumprimento definitivo de todos os sinais do fim do mundo.
Mas todas as gerações experimentam isso. Se você tem idade suficiente para ter estado em uma igreja durante o 11 de setembro de 2001, talvez se lembre das conversas daquela época. Ainda tenho em minha mente a cena de entrar na sala, olhar para as imagens terríveis na TV e ouvir minha mãe dizer: “Filho, o mundo está acabando!” Mas o dia seguinte chega, e a vida continua como sempre. Um dia, entretanto, não será assim.
Pois, embora vejamos os sinais todos os dias e ao longo dos séculos, em proporção crescente, não sabemos o dia nem a hora que o Senhor virá. Na verdade, Jesus disse que virá quando ninguém estiver esperando:
"Quanto ao dia e à hora ninguém sabe, nem os anjos dos céus, nem o Filho, senão somente o Pai. Como foi nos dias de Noé, assim também será na vinda do Filho do homem. Pois nos dias anteriores ao dilúvio, o povo vivia comendo e bebendo, casando-se e dando-se em casamento, até o dia em que Noé entrou na arca; e eles nada perceberam, até que veio o dilúvio e os levou a todos. Assim acontecerá na vinda do Filho do homem. Dois homens estarão no campo: um será levado e o outro deixado. Duas mulheres estarão trabalhando num moinho: uma será levada e a outra deixada. Portanto, vigiem, porque vocês não sabem em que dia virá o seu Senhor. Mas entendam isto: se o dono da casa soubesse a que hora da noite o ladrão viria, ele ficaria de guarda e não deixaria que a sua casa fosse arrombada. Assim, também vocês precisam estar preparados, porque o Filho do homem virá numa hora em que vocês menos esperam.
(Mateus 24:36-44, NVI)
A imagem é bem parecida com o mundo de hoje, não é? Normalidade, regularidade. Mas um dia… Jesus aparecerá no céu, como um relâmpago que todos podem ver. E as pessoas, como em Gotham, se dividirão em dois grupos. Quando o Bat-sinal aparece, ou você se alegra porque o Batman está vindo, ou você se desespera porque o Batman está vindo. Em qual grupo você está?
Qual será a sua recompensa?
Então, qual é a conclusão da nossa reflexão de hoje? O que ganharemos com o trabalho, a vigilância e a espera? Quando Jesus vier, finalmente descansaremos?
Bem, segundo a parábola, a recompensa será mais trabalho - mas não no sentido contemporâneo, onde o trabalho é mais é ainda mais estressante, enfadonho e sem sentido.
Feliz o servo a quem seu senhor encontrar fazendo assim quando voltar. Garanto-lhes que ele o encarregará de todos os seus bens.
(Mateus 24:46-47, NVI)
A Bíblia não diz muito sobre o futuro final, quando essa parte da história chegar ao fim. Ela nos dá algumas pistas, como dizer que reinaremos com Ele, que julgaremos as nações, e assim por diante. Seja o que for, para mim, algo é certo: não passaremos a eternidade cantando em um coral gregoriano para todo o sempre. O próximo mundo será muito mais real e empolgante do que esse aí.
Mas lembre-se disso: no livro de Apocalipse, capítulo 4, os vinte e quatro anciãos que representam o povo de Deus recebem coroas. E o que fazem com essas coroas preciosas? Eles as lançam diante do trono de Deus, em adoração. Afinal, a maior recompensa será ouvir o Governante do Universo dizer: "Muito bem!" O reconhecimento do nosso esforço por nada menos que Aquele que é o principal objetivo do nosso trabalho.
Quando participo das reuniões de pais na escola, você deveria ver a expressão das crianças quando o professor elogia seus esforços diante dos pais. O pai, orgulhoso e feliz, normalmente dá à criança uma palavra de reconhecimento – e os olhos da criança brilham de felicidade. Esse momento é precioso. Então, como pais conscientes devem ser, o pai diz: “Muito bem, agora vamos trabalhar ainda mais! Mas você merece um sorvete ou um presente.” O pai recompensa a criança e, ao mesmo tempo, lhe dá mais responsabilidades.
Jesus fará o mesmo a todos aqueles que, como Alfred, derem apoio total e participação ativa em sua missão e seu reino. Afinal, todos os recursos são dele. Ele é o herdeiro, o herói, o homem que se sacrifica pelos seus, quem salva os inocentes. Nós somos, tão somente, o mordomo que cuida de tudo, dando suporte à sua missão.
Notas e referências
(1) Charles Spurgeon, Watching for Christ’s Coming. In: https://www.spurgeon.org/resource-library/sermons/watching-for-christs-coming#flipbook/
(2) Abraham Riesman, Tracing the Evolution of Batman’s Alfred, from clueless sidekick to special forces stud. https://www.vulture.com/2019/07/batman-butler-alfred-evolution.html
(3) Credo dos Apóstolos.
(3) Olive Tree Enhanced Strong Dictionary. Definição de gregoreuo (g1127), em Mateus 25:13.